COMO A INDIFERENÇA DE UM EMPRESARIAL NOS DEVOLVE À MISÉRIA QUE DEIXAMOS PARA TRÁS. Para evitar mal-entendidos, vou fazer um breve resumo de como acabei nesta situação. Nasci na Venezuela, atualmente tenho 60 anos e me formei como engenheiro de produção industrial. Até agora tudo bem. Mas depois de vários anos de inflação exagerada e negligência do governo, nossa situação econômica era insustentável. Não foi minha fome que doeu, foram os rostos desolados e resignados das crianças que me levaram ao próximo passo. Um dia, com o coração literalmente em pedaços, decidi ir embora. Sem saber ainda, fiz parte de um dos maiores processos migratórios da história da América. Cheguei no Brasil no início de 2018, durante 9 meses fui caseiro em uma fazenda no interior de Roraima, lá consegui juntar dinheiro para trazer minha família, minha esposa e três filhos e fugir e possivelmente até esquecer a infeliz situação que assola aquele país devido à ditadura militar. Graças a um acordo da ONU por meio do ACNUR, vim morar em Barretos, no interior de São Paulo, para trabalhar como fabricante de peças de aço inoxidável. Pouco tempo depois, minha família, que estava esperando em Boa Vista, me encontrou em Barretos. Só quem sabe das ausências conhece a alegria de um retorno, a expressão indescritível e esperançosa daqueles rostos queridos, mais aquela sensação de segurança que agora reinava no ambiente... Foi aí que entendi que todo o meu esforço valeu a pena . Depois de um tempo comecei a procurar melhores oportunidades, foi em junho de 2019 quando conheci Anderson Oliveira e comecei a trabalhar como instalador na Ecopower, empresa líder no ramo de energia solar fotovoltaica. Foi uma grande oportunidade e dediquei 120% a ela , sem descanso, viajando pelo Brasil sempre que me pediam e resolvendo qualquer problema que surgisse a satisfação. Pelas exigências do trabalho, foram tempos de grande aprendizagem, de grandes desafios mas também de enorme satisfação de ver o dever cumprido, deixando sempre o nome da empresa limpo e em alta. Com muito orgulho afirmei: eu sou Ecopower. Eu realmente pensei assim. Eram tempos de adaptação, de correção de erros e de adaptação a novos padrões de serviço. Eram tempos de crescimento, de posicionamento. Gostei de fazer parte dessa equipe pioneira. Em 2020, antes do início da pandemia e pela quantidade de atendimentos demorados, me uni ao meu filho Gabriel e eles nos mandaram para o estado de Goiás para resolver. Foi assim que, no meio de toda aquela confusão, medo e ansiedade, continuamos, com muitas precauções e em silêncio defendendo o Ecopower. Nunca paramos, apesar da desaceleração da economia mundial, da queda inesperada nas vendas e da situação especialmente difícil no Brasil, o setor de energia solar foi um dos poucos que manteve sua posição e até registrou crescimento. (Pela imprudência de dirigir veículo da empresa sem carteira de habilitação, levei uma multa gravíssima que foi cobrada descontada do salário.) Enquanto isso, junto com a firma, minha família cresceu, Gabriel, meu filho mais velho, começou a fazer faculdade na UNIFEB, os dois mais novos cursando o ensino médio e mesmo assim, não esquecendo de onde viemos, conseguimos ajudar substancialmente parentes queridos que ficaram para trás, naquele país. Viajei muito, visitei 9 dos 26 estados, além do Df, conheci pessoas amigas, aprendi sobre a coragem do brasileiro, conhecí o tesouro deste país. Aprendi também a chamar o Brasil de “Patria Amada.” Um dia a fatalidade se apresentou abruptamente, sem aviso prévio. Instalamos um sistema em Bragança Paulista, cidade histórica a 90 km de São Paulo, uma manhã, a atividade era fixar a estrutura de sustentação dos módulos, como todos os dias no início do dia a gente segura as linhas de segurança, só assim pode nós começamos. O que se seguiu foi tão rápido que não me lembro em detalhes. De repente, um rangido terrível e a sensação de que o chão estava subindo. Mais tarde eu estava deitado em uma pilha de placas com pessoas assustadas me ajudando e animando. O rosto ansioso e um tanto confuso do meu filho mais velho, também sua expressão de bravura e coragem. Meu orgulho e admiração por ele, a partir daquele momento e auxiliados pelos meus outros dois filhos menores, eles assumiram a rédeas da casa. Foram sete metros de queda. Milagrosamente Deus havia salvado minha vida... o hospital universitário de Bragança, excelente. Saí dois dias depois com fixadores externos prendendo os ossos quebrados do braço e da mão esquerda, dor intensa em todo o corpo e a sensação inquietante e inútil de um trabalho não feito. Logo, ao chegar em casa, duas situações ficaram claras. Primeiro, a empresa tentaria fugir de qualquer responsabilidade e negaria qualquer ajuda. Ainda neste momento não acredito que pudesse ter significado tão pouco para aqueles que me chamaram de amigo há alguns dias, segundo, estávamos sozinhos, sem nenhuma renda para cobrir as despesas da casa e sem qualquer ajuda externa provável. Eu, que normalmente sou positivista e confiante no futuro, vi uma nuvem cinzenta cair sobre mim. Não podia aceitar, então, com o braço imóvel com aparelhos ortopédicos incômodos e dolorosos e com uma angústia latente na alma, comecei a bater nas portas. Muitas mensagens não atendidas, ligações não atendidas... A esperança fracassada de uma ajuda da empresa. Entretanto, as lesões evoluíram satisfatoriamente, um mês e meio após o acidente foram retirados os fixadores externos (graças a Deus), resta apenas uma placa metálica prendendo os ossos do punho com os do braço. Agonia permanente. Novas cicatrizes, novas feridas para cicatrizar, um processo terrivelmente lento. Mas o tempo passa inexoravelmente, desapareceram as poucas reservas que conseguíamos guardar, as contas acumulavam-se de tal forma que foi preciso vender tudo o que se podia vender, escadas, furadeiras, esmerilhadeiras e todas aquelas ferramentas que tinham algum valor e que estavam em bom estado. Nada mais triste para um profissional do que vender suas melhores ferramentas. No início de julho senti em primeira mão o que significa deixar tudo para trás, abandonar não só a casa amada, a família, os amigos, mas também aquelas ruas, aquela paisagem cheia de calma e tranquilidade, amo muito Barretos. Agora estou em São Paulo, Começar de novo, orações ao céu, bolso vazio. Com fome novamente. No momento em que escrevo este relatório estou dormindo em um abrigo da prefeitura para moradores de rua, graças a Deus tenho um teto para dormir e me proteger do frio. Já deu três meses atrasados no pagamento do aluguel da casa e mais mil problemas, todos em um aumento sustentado. A minha rotina diária começa antes das 5 da manhã na procura de emprego, Eu ando muitos quilômetros por dia para levar o meu curriculum a empresas selecionadas na área da eletricidade industrial. Difícil encontrar alguém que queira contratar um homem de 60 anos para um trabalho técnico. Eu confio e repito para mim mesmo uma e outra vez que tudo vai dar certo. Onde estão meus sonhos, nossos sonhos? O que aconteceu com aquele plano com orçamento e tudo para vender comida? Para onde foram os salgados, os espetinhos, os almoços e os lanches? E para não dizer nada sobre a terra onde criaríamos peixes. Quero acreditar que esses sonhos não foram perdidos, que mal foram deixados para trás. Agora a prioridade é nos encontrarmos novamente. O seguinte é um pedido de apoio solidário. Tenho certeza de que a qualquer momento vou arrumar um emprego e aos poucos vou quitar todas as dívidas contraídas, principalmente as parcelas de aluguel em atraso. Um parágrafo à parte é necessário aqui para agradecer a Dona Celina e seu marido o amigo Joaquim, nossos proprietários, pela compreensão e paciência, eles demonstraram uma qualidade humana digna de admiração. Uma promessa: vocês serão recompensados abundantemente. Mas precisamos de um empurrãozinho em duas frentes. Diante da impossibilidade de receber algum benefício do governo ou da empresa, talvez por desconhecimento nosso, surge uma pergunta, existe alguém ou uma instituição que possa nos orientar e direcionar um processo para resolver satisfatoriamente nossa situação? O segundo pedido é mais prático e eu sinceramente prefiro. Dada a nossa coragem e vontade de trabalhar, desenvolvemos um projeto sustentável e rentável a curto prazo. Temos orçamentos atualizados e detalhados adaptados à cidade de São Paulo. Devido à nossa situação económica atual não temos meios para iniciar o nosso negócio, os recursos estão nas suas mãos, em maior ou menor grau. Eu, que sempre estendi a mão aos mais necessitados, faço agora um humilde pedido ao lugar do vosso coração onde habita a caridade. Nós imigrantes também somos Brasil e queremos nos levantar, logicamente queremos produzir e não ser mais um fardo. Nosso objetivo é reproduzir e multiplicar seus esforços e alcançar outras mãos vazias, sei que podemos. Deus está do nosso lado. Todos os detalhes de apoio desta história, documentos, fotos e outros anexos estão disponíveis nos links abaixo. Colocamos à disposição todas as nossas redes sociais para fornecer as informações que julgar necessárias e garantir o uso adequado de sua generosa contribuição. Peço sinceras desculpas pela tradução medíocre para o português, adoro essa língua, mas como dizemos na Venezuela, “papagaio velho não aprende a falar”, alguns tempos gramaticais podem estar errados e talvez você encontre palavras que não expressem totalmente a ideia , emoção ou sentimento que quero transmitir, estou trabalhando nisso. Muito. Além disso, escrever e publicar uma história como essa desde um celular não é uma coisa fácil, foi um grande desafio. Agradeço a todos pela compreensão e apoio, mais uma vez peço desculpas se enviar para o lugar ou pessoa errada, por favor, aponte na direção certa entre seus conhecidos e amigos. Elevo um clamor ao Céu por nosso amado país, por estes tempos de decisões difíceis e eventos mundiais urgentes e terríveis. Tem misericórdia de nós e do mundo inteiro, Senhor.