Mímico Miqueias no 8° Festival de Mímica Cuba

Míqueias Paz é um premiado ator e um dos melhores mímicos brasileiros. Desde 1984, viaja o mundo com suas apresentações. Nessa caminhada, encanta os públicos das cidades onde passa, seja em Londres, Brasília ou Bagdá, onde participou do Festival de Artes da cidade. Entre os espetáculos montados, estão: Tradição e Contradição, Brincadeiras de Criança, Mascaras de um Pierrot, Gregor Sansa (a Metamorfose), Cotidiano, Sentimentos e Brasil Brasileiro. Idealizou o projeto, "Amar é Preciso”, levado para as escolas da rede de ensino público de Brasília.

Miqueias será homenageado no 8° Festival Internacional de Pantomima em Havana, Cuba, que ocorre de 18 a 24 de Junho. E o objetivo deste financiamento coletivo é a compra de passagem e hospedagem deste artista e seu técnico assistente.

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O mundo dos mímicos é sempre surpreendentemente sólido. Dar solidez ao silêncio é obra de bruxos. Na Idade Média, pessoas como o brasiliense Miquéias Paz seriam queimadas vivas. Na idade do concreto que vivemos hoje, o bruxo Miquéias é aplaudido. Longe da fogueira das vaidades, esse artista tem um peso ímpar no cenário. É um daqueles raros que fala com todos os músculos e consegue dizer tudo.

Entender o mímico Miquéias Paz - que de São José do Rio Preto à endiabrada Londres gesticulou todos os sentimentos do mundo - é entender a multivocação do corpo. Esse elogio que parece pretensioso adequa-se perfeitamente a Miquéias. O que ele sabe fazer com as mãos aturdiria ao mais completo ator shakespeareano. O que ele faz com o silêncio não permite a inocência da platéia.

Miquéias invoca os deuses dos gestos e deixa todos invocados. E todos ficam bestas com a maravilha que o corpo humano pode fazer. Sente-se então que o homem é um potente comunicador. E lidos entendem o que um dedo girando no ar quer dizer.

Miquéias começou a falar com os músculos em Brasília, em 1980. Um começo em teatro de ruas, praças e esquinas. Na capital política do Brasil, o mímico faz política. Um engajamento manso de quem tem muito mais a dizer, do que apenas discursos preocupados com a justiça social. Toda a arte que se limita é burra. E Miquéias tinha fronteiras a serem transpostas.

A carreira de mímico se iniciou em Brasília e logo situou-se em outras frentes. Em 1984, por exemplo, Miquéias Paz estava em são José do Rio Preto, em São Paulo, encenando o espetáculo Sonhos de Um Retirante. Já em 1986, levou a História do Homem para o II festival de Teatro de São Mateus, no Espírito Santo, onde ganhou o prêmio de melhor ator.

No Paraná, Miquéias conquistou o Prêmio Pesquisa de Linguagem e em Brasília foi diretor do Melhor Espetáculo de 1989. E foi assim, de bem com a carreira, que Miquéias resolveu dar um salto maior. Queria conhecer a linguagem dos mímicos do mundo. Viajar para poder "viajar" mais em seu trabalho. Encontrou-se com artistas de vários países dentro da companhia Ralf-Ralf, do Inglês Jonathan Stones.

Em kendall, na Inglaterra, Miquéias arrancou elogios da imprensa com seu desempenho no 1° Festival Internacional de Mímica. No ano seguinte, em 1989, encantou o público do Festival Internacional de Artes da Babilônia. Com o mesmo Ralf-Ralf de Stones encenou o espetáculo Dinner que rodou pela Inglaterra, França, Escócia, Alemanha e EUA. E foi assim, cheio do primeiro mundo, que retornou ao Brasil.

De volta ao Brasil, Miquéias reconquistou Brasília com a idéia de cair de novo na estrada. Uma vontade do tamanho do país. A arte de Miquéias precisa de expansão, do oxigênio brasileiro culturalmente misturado. É o gesto que abre as asas sobre nós. Mímica de mil momentos.

Por Celso Araújo Jornalista