Espetáculo O APOCALIPSE DE UM DIRETOR

"Que poder tem ele sobre vós que de vós não venha?"

Étienne de La boétie

Com o intuito de discutir relações hierárquicas e os abusos de poder, o diretor Thiago Franco Balieiro e a ganhadora do Prêmio Shell de Dramaturgia em 2018 Angela Ribeiro, desenvolveram junto com o grupo Eco Teatral, o projeto O APOCALIPSE DE UM DIRETOR. A história de um grupo de atores, uma assistente, e um diretor no dia da estreia do seu mais recente espetáculo, Hamlet. A peça inédita é a quarta produção independente do grupo Eco Teatral e tem previsão de estreia para o primeiro bimestre de 2019 na cidade de São Paulo.

O APOCALIPSE DE UM DIRETOR

Mais sobre o que nos motiva a falar disso agora!

Nos últimos tempos, os escândalos e manchetes envolvendo abusos de poder em relações hierárquicas, tem se mostrado um dos principais temas discutidos em sociedade. A classe artística, meio onde esse tipo de "cultura" é bastante disseminado, e, provavelmente, por seu maior envolvimento com as mídias, protagonizou as denúncias desse tipo de caso. A identificação com a situação dada, aliada ao pensamento que o artista deve dialogar com seu tempo, nos levou a escolha e desenvolvimento do projeto em questão.

Escolhido o tema, nos faltava ainda localizá-lo no tempo e espaço, e nada era mais óbvio para nós do que nosso próprio meio de trabalho, o teatro. Num primeiro momento, era preciso nos colocar na figura daqueles que detinham o poder numa relação hierárquica, e entender a partir de suas perspectivas o que os levava aos abusos, que fins buscavam eles – pessoais e profissionais – e como eles justificam seus meios. O desdobramento desse raciocínio nos levou ao personagem do Diretor, um artista obsessivo que na sua busca por uma arte absoluta, estaria disposto a sacrificar a tudo e a todos em nome da Arte. Nos restava saber ainda como a outra parte envolvida, os atores, reagiriam dentro desse meio despótico. Quais os procedimentos internos que se operam dentro do indivíduo abusado para que ele continuasse sendo oprimido e quais as consequências resultantes no final desse processo de anulação.

Todo esse esquema psicológico precisava ser envolto por uma história que tivesse um poder empático de forte comunicação com o público. Avante nesse propósito, as buscas nos levaram ao mais célebre texto de todos os tempos, Hamlet, que per si, já evoca uma grande pressão em qualquer diretor que se arrisque a encená-lo, depositando assim, ainda mais peso sobre essa figura obsessiva pela própria arte. Reunimos todos esses elementos e os localizamos no dia da estreia do Hamlet desse Diretor, justamente por entender que a estreia é um dia especialmente suscetível para agravar desastres que até então se mostravam eminentes.

O espetáculo O APOCALIPSE DE UM DIRETOR nasce desse percurso, dessa análise do micro (classe teatral) para alcançar o macro (relações de poder). O intuito do projeto não é mostrar soluções para as questões abordadas, mas sim revelar os motivos, os modos de operações e as resultantes desse processo abusivo, e acima de tudo, questionar até onde indivíduos com poder podem se utilizar desse mesmo poder para atingir fins que são considerados um bem maior.