Causa Matilde Matos

“A arte visual é a arte do silêncio, o artista precisa de um arauto e o crítico preenche essa função, escrevendo, apresentando e divulgando o trabalho do artista para o público.”       

Matilde Matos

Matilde Matos desempenhou um papel vital na crítica de arte. Iniciou sua missão como crítica de arte nos anos 60, mas foi na década seguinte que foi eleita para a Associação Brasileira de Críticos de Arte. Esse reconhecimento se deu pela transcrição que ela fez do ETSEDRON, o grupo de artistas baianos liderado por Edison da Luz, que fugia das técnicas importadas para representar o Nordeste pelo seu avesso. Acompanhou muitos artistas por décadas, mais do que isso, frequentando exposições, ateliers, bienais e muitos salões. Sua atuação contribuiu muito com a carreira de jovens artistas iniciantes. Sem o olhar dela, as artes visuais na Bahia, certamente não seria a mesma.

“Hoje meu projeto maior é ficar vendo os pássaros, catar pitanga no pé, assistir vôlei e futebol quando o Brasil joga, fazer sudoko, ler, escrever sem obrigação e fazer o que me der na telha”, dizia Matilde nesses últimos anos.

“O que sempre me pautou foi o respeito que devemos a qualquer ser humano. Ninguém é superior ou inferior ao outro e todos merecem o mesmo respeito, seja qual for seu título ou condição social. ” Aos 91 anos Matilde teve estas palavras roubadas pelo Mal de Alzheimer. Mas foram registradas na história.

Esta mesma história que ela ajudou a contar e que faz parte da minha vida, da sua vida, da vida de todos os baianos. Eis uma bela oportunidade de retribuir a esta generosidade sem conta de nove décadas dedicadas às artes da Bahia. Matilde está passando por grave necessidade e precisamos angariar recursos para ajudá-la a manter estes custos para garantir que ela não perca estes benefícios.

Ao menos, durante o período de um ano! Esta despesa se elevará a algo em torno de R$ 132.000,00 (cento e trinta e dois mil reais), o que corresponde a um custo mensal de R$ 10.000,00 (dez mil reais) somados a 10% de arrecadação do site KIKANTE.

Se cada um de nós der um pouco que seja, estará doando muito.

Livros de arte, desenhos e gravuras foram cedidas gentilmente pelos artistas e amigos envolvidos nesta causa. Assim você colabora e recebe um destes trabalhos ao final da campanha.

O que você pode colaborar com nossa querida Matilde?
Conforme carta de anuência a campanha Kikante foi criada em nome de Claudine de Matos Toulier, filha e curadora legal de Matilde Matos que ficará responsável pela gestão do recurso repassado diretamente para conta da beneficiada. 

Vamos abraçar a causa Matilde Matos. É simples e fácil. Muito obrigado, Bahia!
Artistas, amigos e familiares.

A partir de R$ 10,00 reais você participa desta ação. Mas fiquem a vontade para colaborar como quiser e puder. Pode ajudar e ganhar as recompensas, pode doar qualquer quantia.

Contamos com você!

Arte e desapego

A coleção Matilde Matos, é um recorte de 80 trabalhos que foram doados ao estado em 2014, para fins educativos, conservação, manutenção e memória. Matilde Matos sempre foi muito próxima dos artistas, os recebia em casa, ia a ateliês, não media esforços para apontar caminhos, com aconselhamentos, sugeria livros a ser lidos. Tinha um especial carinho com os artistas mais jovens, por entender que a eles não se dava muita atenção, ainda estavam em busca de uma iconografia pessoal e inexistências de mercado. Tinha grande poder de intuição, e sempre acertava quando apostava em um artista. Muitos hoje estabelecidos no circuito cultural vieram por suas mãos.

Matilde Augusta de Matos, nascida em Caicó, Rio Grande do Norte, em 1927, fixou residência em 1933 na Bahia. Em 1959, assinava crônicas, dia sim, dia não, no novo Jornal da Bahia de João Falcão. Manteve a coluna no jornal até 1962, quando foi dirigir uma Ebec instalada no Rio. Ao voltar, em 1968, passou a abordar os assuntos artísticos e culturais, na dupla página central do Jornal da Bahia aos domingos. Comentava os trabalhos dos artistas, fazia entrevistas e reportagens, divulgava de toda maneira a arte que fazia. Tem vários livros publicados. Entre 71 e 77, Matilde participou da Bienal de São Paulo. Fez centenas de apresentações de artistas para catálogos. Atualmente, dirige e faz a curadoria e montagens de diversas exposições. Continua ativa e atenta à arte.

Matilde sempre esteve longe dos preconceitos, seja na arte, seja na vida. Sua ampla liberdade em ser, pensar e atuar eram exemplos para os artistas. Sempre falava que seu maior critério era a qualidade de um criador. Gostava de fazer festas em sua casa, misturava tribos pessoas do teatro, dança, música, cinema e artes plásticas. Deixava todas à vontade, ria com os excessos de alguns. Com os artistas consagrados mantinha uma aproximação amistosa, de respeito mútuo e sinceridade. Quando escrevia seus textos para jornais por vezes era ácida, mas nunca injusta.

A Coleção Matilde Matos foi doada ao governo da Bahia, após o encerramento das atividades da escola e galeria de arte Ebec, no ano passado. A partir de 2003, ela assumiu a curadoria do espaço expositivo, tendo como produtora e assessora de imprensa sua filha Claudine Toulier.

Juntas, promoveram eventos nas artes visuais e também musicais, abriram espaço para muitos artistas, inclusive lançando alguns. Os artistas, como forma de reconhecimento, doaram obras para a galeria e assim se formou a coleção. Além das obras doadas a Matilde na Ebec Galeria de Arte, a curadora da exposição Claudine Toulier convidou artistas consagrados e novos, selecionados para participar do evento. Entre os que estão na coleção, Mario Cravo Jr, Bel Borba, Chico Mazzoni, Leonel Mattos, Giovana Dantas, Sérgio Rabinovitz, Hilda Salomão, Marcia Magno, Maria Adair, Graça Ramos, Guache Marques, Ramino Bernabó, Edison da Luz, Luiz Claudio Campos, José Henrique Barreto, entre outros.

É louvável que Matilde Matos faça a doação de seu acervo à Bahia, terra que ela escolheu para morar e deixar seu legado. Uma lição de desapego. Muitos prefeririam vender, leiloar, deixar para os herdeiros. Com essa atitude, ela atinge um grande público, protege os artistas e fixa memória. O colecionador guarda pedaços do tempo. Uma coleção passa a fazer parte da vida do indivíduo e se traduz numa linguagem da alma. O importante numa coleção é ter uma verdade, e nesta em sua simplicidade é fruto do trabalho de uma mulher viciada em arte, e que fez dela seu sentido de vida.

                                                                                                                            Cesar Romero