A Paixão
Tempos incertos. Projetos nas gavetas. Falta de recursos.
Então um ator do grupo propõe iniciarmos uma pesquisa, com tempo e paciência para sua geração.
Tiramos da gaveta uma antiga paixão, a obra cinematográfica de Akira Kurosawa, Rashômon baseada em dois contos de Akutagawa, “Rashômon” e “Dentro do Bosque”, uma maneira de refletir sobre a “pós-verdade”, a farsa da justiça para todos, a queda moral da humanidade , entre outras questões gritantes em nosso tempo.
Passamos a estudar, debater e a cruzar os contos de Akutagawa compilados no livro Rashômon e outras histórias. No processo de encruzilhadas de histórias e referências, colocamos na roda outros textos como: Rashômon, adaptação de Carlos Alberto Soffredini e dele também a maravilhosa “ O Pássaro do Poente”, adaptação de conto popular japonês.
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Muitos encontros on-line, bate papo com convidados especialíssimos como Zé Maria, da dança Buto, Paulo de Moraes, integrante do fantástico grupo PONKÃ, debates, leituras e releituras e chegamos à proposta:
A criação da peça : ORIKI DAS ALMAS com dramaturgia de Paulo Fabiano em parceria com o núcleo de atores , uma livre adaptação de três contos de Akutagawa: “Relato de Ogata Ryôsai”, “Ogin” e “O Mártir”. Nestes contos o autor apresenta os acontecimentos localizados num período feudal impreciso entre meados do século XVI até meados do século XVII, onde o Japão recebeu, assim como outros povos do mundo, a presença dos Jesuítas e seu processo de catequização gerador de imensas crueldades por onde passou. O autor apresenta também, como uma espécie de contraponto, personagens cujos gestos se assemelham a “Jesus”, gestos de solidariedade, empatia e livre arbítrio. Gestos humanos.
Nessa costura, encontramos, na obra Os Irmãos Karamázov, de Dostoiévski, que foi uma influência potente para Akutagawa, o poema "O Grande Inquisidor" que nos traz dados históricos e reflexões filosóficas sobre a elaboração e execução desse plano de controle da igreja Católica sobre as massas ignaras, sua relação íntima com o Estado e seus dispositivos de controle, como a geração do processo de racialização, que passou a justificar a existência no mundo de “raças”, o homem elevado e o selvagem, o proprietário e o escravo.
"A novidade do iluminismo é o conhecimento que se funda na observação do homem em suas múltiplas facetas e diferenças: enquanto ser vivo (biologia), que trabalha (economia), pensa (psicologia) e fala (linguística). Do ponto de vista intelectual, o iluminismo constituiu as ferramentas que tornariam possível a comparação e, posteriormente, a classificação, dos mais diferentes grupos humanos com base nas características físicas e culturais."
(Professor Silvio Almeida, Racismo Estrutural)
O foco da utilização do recurso está no acabamento da peça, assim, destinaremos 2 mil para direção, 2 mil para criação de luz, 2 mil para criação de som, 2 mil para as figurinistas mais 1 mil e quinhentos para a costureira, e para materiais de cenografia e iluminação extra, 4 mil , mais 4 mil para o aluguel do Teatro , mais 2 mil e quinhentos para tradução.
A parir dos estudos da obra de Akutagawa encontramos nossa fala, nosso quintal, nossa gente, nosso tempo: a atual e necessária reflexão sobre o processo de colonização que sofremos, sobre o povo colonizado que somos, sobre a estrutura colonial que ainda rege nossa sociedade, e a necessidade da geração de ações decoloniais como enfrentamento a essa estrutura.
A dramaturgia é montada a partir do conceito de ORIKI. Traz toda a ação para nossa terra e nossa gente, como fez Sofredini. Três contos costurados pelo poema O Grande Inquisidor. Fala, especialmente das crianças que morrem em decorrência do falso moralismo, da intolerância religiosa.
A peça é uma poesia cênica, uma celebração à vida, à paz, à cura de tantas dores.
O Teatro-X e o Teatro Plataforma ( sua nova versão ) faz essa experimentação teatral para voltar à estrada. Experimentação baseada noz cruzos de culturas e experiências. Fará apresentações iniciais no querido Estúdio Heleny Guariba, na praça Roosevelt.
E para finalizar sua produção, conta com sua participação.
Contamos com sua colaboração para que possamos colocar em cena, na vida, essa peça gestada, com muita resistência e paixão, durante a pandemia, mas que nasce como um gesto de amor. Uma obra que reúne os atores criadores: Paulo Fabiano, Ulisses Sakurai, Cléo Moraes, Vic Marcelino, Alberto Morgado, Alda Machado, Alecsandro, Dairzey e Jackeline.
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