O projeto do livro em questão é constituído como pistas com várias manobras em formato de artigos. O primeiro capítulo tem como autor Damião Teles,o qual podemos dizer que é um exemplo de pensador, ativista e skatista. O artigo inicial traz considerações em torno dos aparecimentos de tribos urbanas na cidade de Juazeiro do Norte em meio aos anos 90. Na década
final do século XX, a cidade começa a ser habitada por novos costumes,
as tribos urbanas são diversas, dentre elas aparecem os skatistas com suas
peculiaridades. O autor não deixa de sublinhar: Praticamente não existe
nenhum trabalho que analise com profundidade as atividades referentes às
tribos urbanas, principalmente os skatistas, de Juazeiro do Norte. A tribo
dos skatistas vem se configurando como movimento contestatório dos
padrões juvenis estabelecidos, quebrando esse paradigma social. A partir
da década de 90 esses esportistas vão dando formas concretas a essa tribo,
deixando sua marca no contexto da sociedade e na História dessa cidade,
banhada pela fé e pela humildade. Contudo esse aspecto metropolitano
configura a paisagem perfeita para os skatistas e suas manobras radicais
praticadas nos asfaltos da “vida” urbana da cidade.
Na sequencia desta tarefa de prefaciar, não podemos deixar de
fazer remissões ao que mudou em relação às peculiaridades dos skatistas,
destacamos que dentre tais mudanças, podemos destacar que agora
escrevem sobre seus afetos pelo e através do carinho.
O segundo artigo é da autoria de Ramon dos Santos Ferreira, o
qual apresenta-nos mais peculiaridades dos skatistas; no caso, a sua escrita
vem acompanhada de um pensamento voltado para a relação do Direito
como fundamento que assegura a liberdade na Sociedade. O autor traz
suas considerações fazendo as distinções entre o direito público, o qual
garante a liberdade dos indivíduos e fundamentando a segurança por
parte do Estado. A segurança não é vista no sentido único de vigilância e
controle, podemos dizer, por exemplo, da segurança no sentido alimentar.
O autor traz problematizações em relação ao âmbito do Estado Neoliberal,
o qual retira quase todos os direitos dos indivíduos transferindo todos
os benefícios para o mercado. O artigo ressalta o papel e função do modo
como os skatistas se associam para resistir ao capitalismo. O título de
seu artigo, A Associação Juazeirense de Skate (AJUSK) como função
reparativa do Estado na região, ressalta muito bem este aspecto.
O terceiro artigo, também de autoria de Damião Teles, traz as
capacidades de produzirem movimentos que modificam determinados
espaços. O autor utilizar o par de conceitos que aparecem no livro escrito
em conjunto por Deleuze-Guattari cujo título – O que é a Filosofia? –
indica que atividade filosófica consiste na criação de conceitos os quais são
inseparáveis das relações entre povo, terra e território. O autor ao utilizar
o par desterriorialização-territorialização, o faz como componente das
peculiaridades dos skatistas de Juazeiro do Norte. A desterritorialização
é movimento de sair de um território e chegar em outro, sendo que
esse não está pronto e acabado; os skatistas ao chegarem numa praça
que se caracteriza por ser um elemento decorativo da cidade, passando
quase despercebida começa por ganhar vida quando os skatistas a
desterritorializam, dando-lhe novo sentido; a praça ao mesmo passa por
uma reterritorialização a partir dos movimentos vivos dos skatistas. Damião
Teles no artigo, Desterritorialização e reterritorialização: a ocupação dos
espaços públicos pelos skatistas e Juazeiro do Norte–CE, não deixa de
apresentar a relevância desta passagem. Este trabalho tem a pretensão de
compreender como os espaços públicos, como as praças e ruas, da cidade de
Juazeiro do Norte, foram sendo ocupadas pelos skatistas. Tentar entender
como esses espaços vão sendo ressignificados pelos praticantes desse
esporte e como os skatistas utilizam as praças e ruas para a prática do skate,
desterritorializando e reterritorializando esses espaços, transformando
bancos de praças, corrimãos e escadarias em obstáculos para fazerem suas
manobras com o skate. Compreender, como estes espaços são vistos e
como são ressignificados e organizados para a prática do skate. Juazeiro
do Norte é uma cidade localizada no Sul do Estado do Ceará, com mais de
270 mil habitantes, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatísticas – IBGE, sendo uma das maiores cidades do Ceará.
Nas sequências de apresentações dos artigos, antes
mesmo de começarmos a fazer remissões ao próximo, destacamos que os
skatistas além, de sentir e pensar; também, imaginam. As peculiaridades,
as quais podem ser ditas singularidades, aqueles detalhes únicos que
fazem parte do cotidiano dos skatistas; os seus gestos, trajes e dialetos
compõem novos territórios que são frutos de modos coletivos de imaginar.
O artigo quarto de autoria de Henrique Fonseca Maguim. O autor
recorre ao seu trabalho de conclusão de curso Práticas e Disputas dos
Skatistas da Praça Feijó de Sá (Giradouro) em Juazeiro do Norte–CE. As
suas considerações destacam a década de 90, quando do aparecimento de
tribos urbanas na cidade até a segunda década do século XXI, nos deparamos
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ORG. DAMIÃO TELES E PAULO ALVES SKATE EM JUAZEIRO
com skatistas pensadores. O autor é um destes, o qual buscando, através
de um extrato do texto de qualificação apresentado como requisito para
o desenvolvimento de trabalho monográfico conclusivo da Licenciatura
em Ciências Sociais, da Universidade Regional do Cariri, tendo como
orientadora a professora Otília Aparecida Silva Souza, retrata o cotidiano
dos skatistas. O presente estudo surge a partir da observação das práticas
e disputas dos skatistas na Praça do Giradouro em Juazeiro do Norte-CE.
Esse espaço público está situado na entrada da cidade, nas proximidades
do Cariri Garden Shopping, do Ginásio Poliesportivo, bares, restaurantes,
hospitais, universidades e rodovias que ligam o Triângulo CRAJUBAR. A
prática do skate permite que jovens, de vários bairros da cidade de Juazeiro
do Norte-CE, se encontrem diariamente na Praça do Giradouro, à medida
que o sol entra em descanso, constituindo grupos e apropriando-se deste
espaço público, modificando-o, de certa forma, a fim de estabelecer suas
práticas. O encontro diário destes jovens vai além da prática do esporte em
questão, permitindo que os mesmos constituam seus grupos e sociabilizem
entre si. Os praticantes de skate que circulam na praça são jovens com
idades compreendidas entre 13 e 32 anos. Eles enaltecem suas práticas
na plenitude do direito à cidade na medida em que ocupam determinado
espaço público e apropriam-se dele de maneira inusitada, como bem
entendem; talvez, este seja o princípio das práticas urbanas de disputas.
O quinto artigo - O skate na educação física escolar: possibilidades
colaborativas de aprendizagem - aparece de modo a fazer impacto. Os
autores, Paulo Tiago Oliveira Alves e Liana Lima Rocha apresentam
experiências exitosas de ensino aprendizagem junto aos estudantes de
ensino médio. Neste artigo, encontramos discussões em torno da ecologia
de saberes, a qual nos leva em direção ao amplo campo das epistemologias
comunitárias. Este estudo apresenta como objetivo: relatar uma experiência
de ensino e aprendizagem colaborativa sobre o objeto de conhecimento –
skate nas aulas de Educação Física Escolar, implementada por meio de
processos colaborativos entre uma professora desse componente curricular
com skatistas. A referida experiência ocorreu numa escola pública de Ensino
Médio, situada no sul do Ceará, mais precisamente na cidade de Juazeiro
do Norte. O diferencial dessa experiência foi seu processo de ensino e
aprendizado ter sido realizado de forma colaborativa entre a professora de
Educação Física dessa escola e skatistas, um deles é professor da mesma
área profissional. A ideia dessa experiência unindo esses dois perfis surgiu
a partir de diálogos ocorridos entre essa professora e esse professor, ao
identificarem a seguinte problemática – a ausência de saberes docentes
sobre o skate e a insegurança da professora para implementar um processo
de ensino e aprendizagem sobre essa manifestação da cultura corporal.
Diego de Sousa Coutinho e Pedro Weslei de Oliveira Silva
são os autores do sexto artigo – O skate como ferramenta pedagógica:
suas diversas contribuições para o desenvolvimento motor.
A relevância deste sexto artigo é o destacar o skate não apenas como
mais um esporte de entretenimento, trata-se de uma prática de modificação
existencial em que os jovens passam a ter uma educação coletiva entre
afetos respeitos recíprocos; entre si promovem atividades autogestionárias.
As comunidades dos skatistas de Juazeiro do Norte abrange jovens meninos
e meninas de várias faixas etárias, os cuidados pedagógicos incidem em
resistir a todos e quaisquer tipos de preconceitos. As ações afirmativas
estão sendo praticadas pela AJUSK - Associação Juazeirense de Skatistas,
com o propósito de ampliar os cuidados ecológicos tanto a nível ambiental
quanto aos níveis mental e social. O corpo e a mente são educados na
teoria e, na prática. Os autores do sexto artigo acrescentam os seguintes
pontos: O Skate é um esporte em ascensão na atualidade e tem cativado
bastante o público infantil e juvenil. E mais do que um simples lazer, para
muitos ele se tornou um estilo de vida, um trabalho, uma forma de cuidar
da saúde. Ele trabalha várias partes do corpo humano podendo auxiliar
no desenvolvimento de diversos aspectos motores, como o equilíbrio,
lateralidade, noção espacial e temporal, aumento da tonicidade dos
músculos inferiores, fortalecimento e estabilidade de ligamentos e tendões,
e trabalha também a coordenação ampla e óculo pedal. Acrescenta-se ainda
que ajuda bastante no relaxamento das tensões psicológicas cotidianas,
ajuda na socialização, no desenvolvimento da autoimagem, da autoestima
e da autonomia, que acabam por refletir de forma positiva na aprendizagem
dos alunos, no nosso caso específico. No entanto, vale ressaltar, que mesmo
vislumbrando tantos pontos positivos, esse esporte ainda não recebe o
seu devido valor. Desse modo, o nosso objetivo é usufruir de todos os
seus benefícios, ou seja, pretende-se enriquecer o ambiente educacional
e suas atividades educativas com tais benefícios, além de valorar esse
esporte tão rico. Pensando nisso, a proposta base desse trabalho é utilizar
o skate como uma ferramenta pedagógica de auxílio ao desenvolvimento
motor dos estudantes das séries iniciais no ensino fundamental. Para
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ORG. DAMIÃO TELES E PAULO ALVES
isso um diálogo com alguns estudiosos da educação física e também da
psicomotricidade foi estabelecido, conversando também com a experiência
enquanto batista do autor que vos fala. Desejo-lhes uma boa leitura.
No sétimo artigo, os autores, Paulo Tiago Oliveira Alves, Antonio
Jansen Fernandes da Silva e Damião Teles de Oliveira, enunciam as fases
em que a pratica do Skate culmina em preocupações por parte dos skatistas
em estabelecer associações consistentes entre eles, a ponto de elencarem
as etapas em que tais recursos passam ganhar a relevância na organização
de circuitos em que campeonatos e torneios passam a dar maiores
destaques ao esporte, sobretudo quando inserido nos Jogos Olímpicos.
Desde os primeiros relatos desta prática, onde era conhecida como surfe
de asfalto, ou “surfinho” até, hodiernamente ser reconhecido como esporte
olímpico, o skate tem se constituído historicamente como prática de caráter
polissêmico e terreno de disputa de suas significações. Sendo retratada
pelas mídias tradicionais como uma prática “transgressora”, até a atual
predominância da esportivização do fenômeno skate, fortalecendo-se
quando, em 2016, foi divulgada, pelo COI (comitê olímpico internacional)
como um esporte olímpico a ser disputado na edição de 2020. Porém,
em março de 2020 foi realizada uma reunião para discutir o ambiente
em constante mudança em relação à COVID-19 e aos jogos olímpicos
de Tóquio, os membros do comitê olímpico decidiram o adiamento
dos jogos para o ano seguinte, através da divulgação de declaração
conjunta do COI e Comitê Organizador de Tóquio de 2020 (COI, 2020).
Damião Teles, no oitavo artigo, apresenta o seu trabalho de
conclusão de curso com o título Skate em Juazeiro: fazendo o corres para
concretizar os sonhos. O trabalho foi apresentado ao Curso de Jornalismo
da Universidade Federal do Cariri, como requisito parcial para obtenção
do título de Bacharel em Jornalismo, tendo como orientador: Prof. Me.
Kleyton Jorge Canuto e com co-orientação da Profa Ma. Adriana Barroso
Botelho.