Consideramos esse método de controle populacional de felinos o único não-traumático e eficiente a ser aplicado em cidades onde não se tem domínio sobre a população de gatos de rua. A cidade de São Paulo, por exemplo, não possui nenhuma política pública direcionada para o assunto. Instituições particulares, como faculdades de Medicina Veterinária e Direito, seguem o exemplo do Estado e inexistem ao tema. Não há estudo e esforço consideráveis das autoridades que respondem pela área de Saúde Pública e Meio-Ambiente para se saber o número aproximado da população de rua existente. Não há nem mesmo números oficiais atualizados sobre gatos domiciliados. O último censo, realizado em 2002 pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), apontava que na cidade existiam 230.000 gatos domiciliados e o jornal O Estado de S. Paulo fornece em março de 2008 números divulgados pela Faculdade de Medicina Veterinária da USP, dando conta de que 580.000 felinos estavam domiciliados na cidade. É claro que o contingente de rua é muito maior do que a população parcialmente protegida por tutores. Para finalizar em relação aos números, corre a informação de que o CCZ concluiu em 2013 que existam cerca de 4 milhões de animais de rua (gatos e cães) na cidade. Parece uma estimativa baixa.
O fato é que por sua incrível capacidade reprodutiva o gato preenche de maneira cada vez mais avassaladora terrenos baldios, obras inacabadas, favelas, becos, pontes, viadutos, casas e edifícios abandonados. O grande número de gatos nesses locais forma colônias que via de regra incomodam vizinhanças e transeuntes. Barulho e mau-cheiro são reclamações constantes. Os animais não possuem qualquer tipo de monitoramento ou suporte, ficando a míngua e padecendo sem alimentação adequada e controle de doenças (inclusive zoonoses). Agravando esse quadro, as colônias ficam expostas a uma sociedade pouco escolarizada e muito violenta. Os animais são alvo de maus-tratos permanentemente. Espancamento, tortura, ateamento de fogo, captura para trabalhos de magia negra e macumba, atropelamento sem socorro, envenenamento e todo tipo de crueldade assola um contingente enorme de gatos de rua.
São milhões de animais vítimas de uma sociedade doente que comete crimes de maus-tratos sem qualquer freio legal ou moral.
As condições miseráveis que vivem as colônias por si só pode ser considerado maus-tratos. E precisamos incluir isso em nossa conta coletiva. Há um fracasso social quando o assunto é animal de rua em nosso país.
Por isso clamamos para que toda ONG relacionada a defesa animal, todo projeto focado na causa animal, toda instituição que se dedica ao Meio-Ambiente, toda faculdade de Medicina Veterinária, toda faculdade de Direito, toda pessoa consciente de seu dever para com a diminuição do sofrimento animal, deve procurar saber, entender, praticar, financiar, divulgar e incentivar as ações de CED.
O Bicho Brother tem entre suas tarefas principais a captura, esterilização e devolução de gatos de rua da cidade de São Paulo.
Esse não é um trabalho simples e nem de longe fácil. Equipamentos, veículos, agentes de CED e clínicas veterinárias com profissionais capacitados e dispostos são necessários. E todo esse aparato, como em toda atividade humana de Saúde Pública, precisa de financiamento.
E a falta de financiamento é, além do pequeno número de agentes de CED, o principal fator que determina o pífio número de capturas face ao problema assombroso que se apresenta.
Sem acesso a verbas públicas e sem investimentos da iniciativa privada, que possibilitariam que escollhêssemos pontos nevrálgicos da cidade (colônias numerosas e antigas), nosso trabalho de captura, esterilização e devolução fica ao sabor de ações pontuais, patrocinadas por protetores ou grupos de pessoas que nos contratam. São trabalhos esporádicos. Servem para o aperfeiçoamento da técnica e demonstração pública do conceito, mas estão longe de ser ações eficazes no controle da sofrida população felina da cidade.
Esperamos e trabalhamos por dias melhores.